Esperança e Luta é o que temos a oferecer!

Blog do vereador Miguel Leopoldo Teixeira Bastos, do PT. Presidente Figueiredo, Amazonas, Brasil.
Esperança e Luta é o que temos a oferecer!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Vereador Apresenta Indicação para UEA

I N D I C A Ç A O Nº 01/2011

Excelentíssimo Senhor Presidente da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Presidente Figueiredo-AM.
O vereador abaixo assinado, na forma legal e regimental, após ouvido o Plenário, solicita a Vossa Excelência que se digne enviar ao Magnífico Reitor da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, Dr. José Aldemir de Oliveira cópia desta indicação no sentido de homenagear Doroti Alice Müller Schwade atribuindo seu nome ao campus da UEA em Presidente Figueiredo, para o que apresento a seguinte:
J U S T I F I C A T I V A

Senhor Presidente,
Senhores Vereadores,
Senhor Reitor,

A indigenista, agroecologista, militante socioambiental e dos direitos humanos, Doroti Alice Müller Schwade nasceu no dia 8 de maio de 1948 em Blumenau/Santa Catarina. Com sua sensibilidade e determinação foi uma das grandes construtoras de conhecimento para a sustentabilidade da Amazônia. Desde a adolescência se propôs a dedicar a vida aos mais necessitados. Em 1974 entrou na OPAN (Operação Amazônia Nativa), entidade de voluntários leigos que trabalham com comunidades indígenas do Brasil e, em especial, da Amazônia. Em 1976 foi para o Estado do Acre integrando equipe do recém criado CIMI - Conselho Indigenista Missionário / Amazônia Ocidental que incluía o Acre, o Médio Purus e o Médio Rio Madeira, órgão vinculado a CNBB. Doroti foi eleita a primeira coordenadora daquele regional. A partir daí percorreu diversas regiões levantando a situação das comunidades indígenas. Primeiro o rio Iaco, o Alto Purus, o rio Envira, depois desceu pelo Purus e seus afluentes, no rumo de Lábrea/Amazonas. E, finalmente, pelo médio rio Madeira e seus afluentes. Assim foi localizando comunidades até então desconhecidas até mesmo pela FUNAI, e que enfrentavam grandes dificuldades por causa da exploração exercida por patrões de seringal, pelos conflitos com seringueiros e por doenças trazidas pelos invasores e ocupantes de seus territórios. Trouxe as primeiras notícias de povos isolados, como o dos Suruaha, localizado em um afluente do Rio Tapauá, cujos primeiros contatos foram depois feitos por membros do CIMI e da OPAN. Casou-se em 1978 com Egydio Schwade, que era Secretário Executivo do CIMI Nacional. A convite de Dom Jorge, bispo da Prelazia de Itacoatiara/AM, vieram para o Amazonas em junho de 1980 para assumir o trabalho junto aos Waimiri-Atroari. Por causa das dificuldades impostas pelo bloqueio mantido pela ditadura militar, localizaram-se primeiro na sede da Prelazia em Itacoatiara. No mesmo ano iniciaram a Pastoral Indigenista na mesma Prelazia. Com o fim da Ditadura Militar foram convidados pelos índios e autorizados pela FUNAI a participar da vida em suas aldeias, iniciando a primeira alfabetização em sua língua materna. Pela primeira vez o povo Kiña ou Waimiri-Atroari, pode revelar o que lhe aconteceu durante a Ditadura Militar. Mas, em conseqüência dessas revelações foram expulsos da área em dezembro de 1986, como represália pelas denúncias feitas contra a Mineração Taboca e Eletronorte, que invadira e depredara o território indígena. Estabeleceram-se, então, em Presidente Figueiredo onde assessoraram o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e participaram da criação do Partido dos Trabalhadores. Continuaram também a luta contra os principais inimigos dos Waimiri-Atroari, os grandes projetos de mineração e hidrelétricos. Doroti foi uma ferrenha defensora da ética na política e dos direitos humanos, sendo uma das criadoras do Conselho Tutelar no município. Do final dos anos 80 e inícios dos anos 90 participou das Conferências Estaduais e Nacionais de Saúde, bem como de diversas Conferencias de Saúde Indígena, onde colaborou na elaboração das propostas sobre etno-medicina e nos debates para construção do SUS – Sistema Único de Saúde. Em 1992 ajudou na criação da Casa da Cultura do Urubuí (CACUÍ), projeto de sua família que tem como objetivo abrigar e disponibilizar um arquivo de étno-história desta região. Hoje este acervo documental é referencia para estudantes e pesquisadores das mais diversas universidades e institutos de pesquisa. A CACUÍ abriga também a primeira biblioteca da cidade, voltada principalmente para história, direitos humanos e agroecologia, constituída ao longo de sua trajetória na Amazônia e nos movimentos sociais aos quais Doroti e Egydio tomaram parte. Por muitos anos foi a única biblioteca no município aberta a estudantes e professores das escolas locais. Além disso, Doroti foi a principal construtora das vivências em agroecologia desenvolvidas na CACUÍ, tendo recebido estagiários e cursistas de diversos segmentos da sociedade, brasileiros e de vários outros países. Doroti foi também professora da escola estadual Maria Calderaro em Presidente Figueiredo por um ano e presidente da associação de pais e mestres da escola municipal Eng. Nelson Dorneles. Pelos cursos, palestras e, principalmente, pelo exemplo de vida, Doroti Alice Müller Schwade se tornou referência na conscientização para a necessidade de construção de uma sociedade mais justa e fraterna. “Mulher acolhedora, prestativa, coerente, inquieta, decidida. De conduta firme e ação profética. Mulher que nasceu para cultivar utopias, espalhar sementes de um mundo comunitário, pluri e multi ético, justo e igual para todos”[1]. Pela importância que esta mulher representou em vida na construção da história desta região, ela merece ser lembrada e homenageada com o seu nome em um campus universitário deste município.

Plenário Vereador Messias do Carmo Leite, 25 de fevereiro de 2011.



Miguel Leopoldo Teixeira Bastos
Vereador PT



[1] Poema de Roberto Antônio Liebgott “Doroti”, em homenagem a Doroti Schwade, dezembro de 2010.